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Gengibre pode ajudar com os enjoos da gravidez? Tem riscos?

20 Abr 2024 - 08:30

Gengibre pode ajudar com os enjoos da gravidez? Tem riscos?

O gengibre é promovido nas redes sociais como um aliado em várias questões de saúde. Em algumas destas publicações diz-se, por exemplo, que “o gengibre é ótimo para diminuir enjoos durante a gravidez”. Mas será mesmo assim? É seguro para uma grávida consumir gengibre? 

Gengibre pode ajudar com os enjoos da gravidez?

A evidência científica disponível sugere que o gengibre pode ajudar nos enjoos da gravidez. Quem o adianta, em declarações ao Viral, é Ana Areia, especialista em ginecologia e obstetrícia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) e vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal (SPOMMF), e Maria Inês Cardoso, nutricionista no Hospital da Luz e na equipa online Diana Cruz Nutrição.

Ana Areia começa por referir uma revisão sistemática e meta-análise de 2014 de 12 ensaios aleatórios, que contaram com 1278 mulheres grávidas.

O objetivo deste trabalho foi tentar perceber o que mostra a evidência disponível sobre a eficácia e a segurança da administração de gengibre por via oral para o tratamento de náuseas e vómitos durante a gravidez.

De facto, e tal como salienta Ana Areia, o estudo sugere que “o gengibre melhorou as náuseas em comparação com o placebo”. Contudo, realça, “não reduziu significativamente os vómitos”.

Além disso, uma revisão publicada este ano, que “tentou efetuar uma visão geral das revisões sistemáticas e meta-análises”, também “revelou que o gengibre se mostra promissor no alívio dos sintomas de náuseas e vómitos relacionados com a gravidez”, acrescenta. 

Apesar de as provas reunidas sugerirem que o gengibre parecer ser “uma opção botânica segura para gerir as náuseas e os vómitos”, refere-se também no estudo que “é importante melhorar a qualidade científica das meta-análises publicadas”.

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Segundo Maria Inês Cardoso, o potencial efeito do gengibre deve-se, em particular, aos “gingeróis”, os seus “componentes primários” que, além de apresentarem “propriedades antioxidantes, antimicrobianas, imunomodulatórias e antineuroinflamatórias”, também têm “um efeito antiemético conhecido”

Assim sendo, explicam as duas especialistas, a estimulação do esvaziamento gástrico e da motilidade intestinal, promovida pelos compostos bioativos do gengibre, é um possível mecanismo de ação para a redução das náuseas e dos vómitos.

O consumo de gengibre na gravidez tem riscos?

Na perspetiva de Maria Inês Cardoso, apesar de os estudos mostrarem que o gengibre é seguro durante a gravidez, “a dose utilizada, a frequência de consumo e a individualidade devem ser sempre tidas em conta” na hora de recomendar o seu consumo.

Embora não exista uma dose padrão para o alívio das náuseas durante a gravidez, Ana Areia e Maria Inês Cardoso referem que, segundo a evidência, a dose máxima de um grama de gengibre dividida em duas a quatro tomas por dia é segura.

Aliás, aponta Maria Inês Cardoso, “já existem suplementos específicos para a gestação com gengibre na sua composição”.

Contudo, frisa, “a suplementação (deste e de qualquer outro componente) deve ser sempre supervisionada pelo nutricionista e/ou médico, de forma garantir a sua segurança, em qualquer fase do ciclo de vida”. 

Isto porque, alerta Ana Areia, ultrapassar a dose segura de gengibre pode, de facto, ter efeitos negativos na saúde da grávida. 

“Doses elevadas de gengibre concentrado sob a forma de pó ou tinturas de ervas podem aumentar o risco de hemorragia (diminuindo a agregação plaquetária) e podem também aumentar a produção de ácido no estômago, sobretudo se tomado com outras ervas ou medicamentos com o mesmo efeito”, esclarece.

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Além disso, assinala a médica, “a suplementação com gengibre pode ter interações aditivas ou competitivas com alguns medicamentos”.

O que se recomenda em caso de náuseas frequentes durante a gravidez?

Segundo a vice-presidente da SPOMMF, o que está recomendado, numa fase inicial, é um “aconselhamento sobre alterações na dieta e prevenção de fatores de desencadeamento”, aponta.

As duas especialistas concordam que as mulheres com náuseas frequentes durante a gravidez devem, em primeiro lugar, fazer refeições ligeiras e frequentes.

Além disso, recomendam que se evite a sensação de estômago vazio e, aponta Ana Areia, “as refeições devem ser ingeridas lentamente e em pequenas quantidades”.

No que diz respeito ao tipo de alimentos a incluir, no geral, cabe à grávida “determinar quais os que tolera melhor”.

Até porque “são escassas as provas científicas de alta qualidade sobre os componentes alimentares ideais para reduzir as náuseas”, refere. 

Ainda assim, segundo Ana Areia, sabe-se que, por exemplo, “os alimentos ricos em açúcar”, “picantes”, “com elevado teor de gordura”, “ácidos”, com odores fortes e “o café” podem “agravar os sintomas”.

Por outro lado, destaca Maria Inês Cardoso, “o consumo de alimentos secos, sólidos e mais ricos em hidratos de carbono (como tostas, bolachas de arroz, milho ou cereais), as frutas cítricas e alimentos ricos em proteína (como carne, peixe e ovo) apresentam um efeito positivo no controlo da sintomatologia”.

A nutricionista salienta a importância de uma hidratação adequada e indica que o consumo de água fresca “com gás, simples, ou com sumo de limão, ou de outra fruta cítrica parece também ser efetivo” no controlo das náuseas.

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Ana Areia recomenda que os líquidos sejam ingeridos “em pequenas quantidades”, pelo menos “trinta minutos antes ou depois dos alimentos sólidos para minimizar o efeito do estômago cheio”.

Caso os sintomas não melhorem, conclui a médica, recomenda-se a toma de “gengibre e/ou piridoxina [vitamina B6], ou doxilamina-piridoxina”.

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20 Abr 2024 - 08:30

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